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12.10.10

O tigre e a criança


Em um reino, as pessoas deviam escolher um animal para conviver. E entre uma família de guerreiros, havia uma criança, que por um acaso, conheceu um tigre, e por ele se afeiçoou. Seus pais eram contra, acreditavam que o tigre faria mal à criança, que poderia machucá-la e sugeriram que ela escolhesse um cavalo. Mas a criança não queria alguém que a carregasse, mas que a acompanhasse.


O tigre e a criança se entendiam muito bem, passavam horas conversando, brincando, correndo atrás de bolas, caçando borboletas, observando as estrelas. A criança adorava abraçar o tigre, ele a mantinha quente e passava todo o seu afeto num simples gesto, e a criança retribuía com cafuné, que fazia o tigre ronronar como um gatinho.

O tigre lhe deu um presente: era um pequeno tigrinho de pelúcia, para que a criança pudesse lembrar-se dele. E a criança dormia toda noite com o brinquedo, por lembrar de seu companheiro, e isso a tornava a criança que era, mesmo que tentasse agir de outra forma.

Mas nem tudo era perfeito. A criança estava em fase de crescimento, e por vezes ficava irritada sem motivo algum. E queria ficar sozinha. Mas o tigre não queria deixá-la, queria ajudá-la a superar tal fase. E a criança utilizava qualquer meio, chegando até a machucar o tigre. Quando os ataques passavam, ela ia lhe pedir perdão, e ele aceitava.

Um dia a criança teve um desses ataques e mais uma vez o tigre a perdoou. Mas ela sentia que ele estava distante, como que se afastasse. Teria ele finalmente se enchido daqueles ataques e ensaiava sua retirada?

A criança não queria se afastar. Apesar de odiar admitir seus sentimentos, sentia que quando não via o tigre, uma angústia se abatia sobre ela. De vez em quando, sentia a vontade desesperadora de abraçá-lo, mas tinha que se contentar com o bichinho de pelúcia, devido à distância. Ao sentir o que achava ser uma despedida, sentia como se todo o mundo se apoiasse sobre seu peito, fazendo uma pressão infinita que se traduzia em lágrimas, escondidas em seu travesseiro.

E por mais que não entendesse, ela finalmente admitiu o que sentia por ele.

5.10.10

Cotidiano de um casal feliz

           
                 Segunda-feira, 23h.

A mulher olhava pela sacada aberta o céu nublado, enquanto o homem desligava a televisão. Ele sentiu uma vontade súbita e a chamou. Quando ela voltou a adentrar no quarto, tomou sua mão – e cintura- e fez um giro com ela.

O olhar da mulher o indagava - dançar, agora? A que os olhos dele respondiam – por que não? Fez uma mesura como quem convida, e ela aceitou.

Revolviam pela pequena sala, imersos em si e em sua dança sem música, cujos sons vinham unicamente dos carros da avenida abaixo. Carros que os ignoravam, que prestavam atenção somente à dança de luz dos semáforos.