A garota abriu ansiosa a caixinha rosa e colocou cuidadosamente a pequena bailarina em pé. Deu corda e ela graciosamente girou, dançando e refletindo nos espelhos com milhares de cópias dela. A bailarina estava feliz, dançar era a paixão dela, e a garota estava extasiada.
A bailarina dançava
várias vezes por dia, e a garota trazia várias amigas para vê-la e muitas vezes
tentavam imitá-la. A rotina da dança se repetiu por muito tempo e eventualmente
a bailarina não queria mais dançar. Não daquele jeito, repetitivo. Queria
experimentar novos movimentos, novos ritmos, novos palcos.
Vendo que a bailarina
não dançava, a garota se irritou. Bateu na caixa, mas ela não se moveu. Então a
garota começou a chorar. Era um som horrível. A bailarina nunca o tinha ouvido
antes. Quando dançava, as garotas soltavam suspiros ou riam de alegria por sua
arte.
Algo cresceu dentro da
bailarina. Era um peso terrível sobre seu coração, algo que ela nunca havia
experimentado. Doía demais, ouvir aquele som, ver pequenas gotas escorrendo
pelo rosto da garota. Então, lentamente, a bailarina voltou a dançar, mesmo
contra sua vontade. Ao perceber, a garota começou a silenciar-se e esboçar um
belo sorriso.
E por tempos isso
continuou: para não deixá-la triste, a bailarina continuava a dançar. A
bailarina, muitas vezes cansada, caía, e sempre era levantada pela garota. Até
que um dia ela ficou caída. Suas pernas iam perdendo a cor e ela tornou-se
quebradiça, mas não foi levantada. Por vezes via a garota, agora mais velha, se
pintando e entretendo-se com outras coisas.
Uma fina camada de pó
começou a cobrir os espelhos da caixa. A bailarina não mais se reconhecia,
desbotada, sem vida e parada. E um dia um acidente ocorreu: a caixa foi ao
chão, com a bailarina presa embaixo. A perna dela foi quebrada, e ela não
poderia mais dançar. Então a garota a guardou de qualquer forma na caixa e
colocou no armário. Relegada ao escuro, só restava à bailarina os antigos sonhos
não realizados.