16.3.12

A bailarina



A garota abriu ansiosa a caixinha rosa e colocou cuidadosamente a pequena bailarina em pé. Deu corda e ela graciosamente girou, dançando e refletindo nos espelhos com milhares de cópias dela. A bailarina estava feliz, dançar era a paixão dela, e a garota estava extasiada. 

A bailarina dançava várias vezes por dia, e a garota trazia várias amigas para vê-la e muitas vezes tentavam imitá-la. A rotina da dança se repetiu por muito tempo e eventualmente a bailarina não queria mais dançar. Não daquele jeito, repetitivo. Queria experimentar novos movimentos, novos ritmos, novos palcos.


Vendo que a bailarina não dançava, a garota se irritou. Bateu na caixa, mas ela não se moveu. Então a garota começou a chorar. Era um som horrível. A bailarina nunca o tinha ouvido antes. Quando dançava, as garotas soltavam suspiros ou riam de alegria por sua arte.

Algo cresceu dentro da bailarina. Era um peso terrível sobre seu coração, algo que ela nunca havia experimentado. Doía demais, ouvir aquele som, ver pequenas gotas escorrendo pelo rosto da garota. Então, lentamente, a bailarina voltou a dançar, mesmo contra sua vontade. Ao perceber, a garota começou a silenciar-se e esboçar um belo sorriso.

E por tempos isso continuou: para não deixá-la triste, a bailarina continuava a dançar. A bailarina, muitas vezes cansada, caía, e sempre era levantada pela garota. Até que um dia ela ficou caída. Suas pernas iam perdendo a cor e ela tornou-se quebradiça, mas não foi levantada. Por vezes via a garota, agora mais velha, se pintando e entretendo-se com outras coisas.

Uma fina camada de pó começou a cobrir os espelhos da caixa. A bailarina não mais se reconhecia, desbotada, sem vida e parada. E um dia um acidente ocorreu: a caixa foi ao chão, com a bailarina presa embaixo. A perna dela foi quebrada, e ela não poderia mais dançar. Então a garota a guardou de qualquer forma na caixa e colocou no armário. Relegada ao escuro, só restava à bailarina os antigos sonhos não realizados.

1 comentários:

Que a bailarina possa sair da sua caixa, recuperar suas forças, ganhar outras pernas fortes e realizar o que sonhou... Espero que uma nova criança a encontre e realmente faça dela um exemplo de "bailarina dos olhos brilhantes" - o que sempre escuto quando se referem a mim - e que dê valor aos seus movimentos, sua sensibilidade e sua presença...

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