27.7.12

Jornalismo impresso: Compulsão por Compras

Rebecca Bloomwood é uma jornalista financeira e oneomaníaca. Na verdade, ela não entende nada de economia, vive fugindo do gerente do banco, onde deve cerca de 9, 700 libras (algo em torno de 33 mil reais) e inventa planos mirabolantes para pagar seu cartão de crédito. Imagina-se ganhando na loteria, casando com um multimilionário e até devaneia que alguém pague sua conta por engano. Porém, enquanto as cobranças aumentam, deixando-a triste e frustrada, ela desconta suas emoções...comprando.

Apesar de Rebecca ser uma personagem de ficção, sua situação é muito real. Há uma estimativa de que 2% a 8% da população mundial sofra de consumo compulsivo, ou oneomania, e deste percentual, 80% são mulheres. Apesar de não se saber precisamente porque a oneomania é mais comum entra as mulheres, há suposições. “A mulher vive em uma sociedade que exige muito. Ela tem que corresponder como dona de casa, como ótima funcionária, a mídia exige que ela seja bonita, que tenha um padrão de beleza, que é muito mais rigoroso que o masculino e ainda tem os fatores hormonais, que a desequilibram uma vez por mês. Tudo isso eleva os níveis de ansiedade e depressão” diz o psicólogo Leonardo Bastos.

Assim como o álcool e outras drogas, o ato de comprar dá uma sensação prazerosa, e pode viciar. Os compradores compulsivos adquirem produtos que não precisam e que muitas vezes não utilizam, simplesmente para comprar. “Tenho necessidade de todo sábado comprar uma peça de roupa, ou alguma bolsa, alguma coisa, senão, meu fim de semana não é bom” diz a auxiliar de escritório Thalita Peres. “Tudo pra mim é motivo de compra. Compro muito livros, CDs, perfumes, batons, calçados, bolsas, chocolates, presentes, eu compro o que eu acho bonito, não compro pra me exibir” diz a professora de Jornalismo da PUC Campinas, Cecília Toledo. Já a professora de Matemática, Bárbara Tonhela, admite que “compra para ter aquela sensação de ter” e que tudo o vê, quer. Rebecca vai além e descreve a sensação que tem após a compra: “é como se você estivesse com fome por dias e finalmente comesse”.

Nossas Rebeccas não compram para se exibir, mas há aquelas que compram para fingir que pertencem a algo, por status. Para essas pessoas, adquirir determinado produto as elevará a posição de prestígio daquelas que fazem a propaganda, que são celebridades bem-sucedidas. Chegam até a inverter valores: o importante é ter, e não ser, reflexo da atual sociedade que valoriza a aparência. Outras compram para participar de um determinado grupo: ter aquele brinquedo do desenho da moda, o celular mais avançado, a roupa mais fashion.

Os motivos e o estado de espírito do comprador variam, mas em sua maioria, segue a fórmula “ansiedade + frustração”. Bastos afirma que “quando uma pessoa está ansiosa e não consegue se controlar, ela procura um meio de descarregá-la, convertendo a ansiedade em um ato, como a compra. A pessoa sente prazer enquanto está comprando, mas depois, se sente frustrada por perceber que não conseguiu satisfazer o prazer que tinha expectativa de ter, gerando nova ansiedade, o que leva à um ciclo vicioso”.

E esse ciclo pode custar caro. Para sustentar o vício, muitos começam a fazer empréstimos, pedem mais cartões, arranjam outro emprego, e se não conseguem pagar as dívidas, podem perder seus bens, como casas e carros, ou até o emprego. Mas demoram pra admitir que há um problema. Apesar de nunca ter passado pelas situações acima descritas, Cecília afirma: “quando contei 300 bolsas, percebi que tinha uma coisa errada.”

Quando um compulsivo admite que tem um problema, tende a começar a se policiar,e com isso, consegue diminuir e até acabar com a compulsão. Porém, para os casos mais difíceis, a psicoterapia é indicada. “Não há muita diferença do tratamento que é dado para o alcoolista, se trabalha com uma entrevista motivacional, dentro dessa entrevista há os passos para a pessoa perceber o que está acontecendo, ajudá-la a ter referencial, para ela saber como está funcionando, pra depois entrar na mudança de comportamento, que deve partir dela” diz Bastos. Em casos mais graves, medicamentos anti-depressivos são indicados.

Há também um grupo de auto-ajuda, chamado Devedores Anônimos. O nome, que remete aos Alcoólicos Anônimos, não é coincidência. O grupo tem os mesmos moldes, onde um pequeno grupo se reúne e conta seus problemas, sendo auxiliado pelos outros, e é organizado pelos próprios participantes. O grupo foi formado originalmente nos Estados Unidos, em 1968, e chegou ao Brasil em 1997, com reuniões em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Paraná.

As Rebeccas encontraram um jeito de controlar os gastos: montam planilhas. “Planilha de gastos no Excel, eu e minha família toda temos. A gente tem que manter o controle” diz Bárbara. “Agora eu faço (planilhas) porque tenho que pagar a faculdade, mas antes, o que eu ganhava eu gastava” afirma Thalita.

Uma planilha para controlar os gastos é um começo para aqueles que desejam gastar menos e acompanhar sua situação financeira, para evitar surpresas no fim do mês. Porém, comprar tomando cuidado com os excessos, faz bem para o humor e para a economia. Às compras!

1 comentários:

O Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP busca pessoas de 21 a 60 anos, que apresentam compulsão/descontrole por compras (oniomania), para participar de estudo. Para os selecionados, serão oferecidos tratamentos médico, medicamentoso e psicoterápico.

Oniomania ou Compras Compulsivas é caracterizado por:

* Preocupação excessiva e perda de controle sobre o ato de comprar.
* Aumento progressivo do volume de compras.
* Tentativas frustradas de reduzir ou controlar as compras.
* Comprar para lidar com a angústia, ou outra emoção negativa.
* Mentiras para encobrir o descontrole com compras.
* Prejuízos nos âmbitos social, profissional e familiar.
* Problemas financeiros causados por compras.

Os interessados deverão entrar em contato pelo telefone do Pro-AMITI (11) 2661-7805 ou enviar um e-mail com telefone de contato para compradorescompulsivos.hc@gmail.com

Site:www.amiti.com.br
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