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30.7.11

Pontos 5


Sambakza - There She Is! - Part 5 - Final

29.7.11

Pontos 4


Sambakza - There She Is! - Part 4

28.7.11

Pontos 3


Sambakza - There She Is - Part 3

27.7.11

Pontos 2


Sambakza - There She is - Part 2 - Cake Dance

26.7.11

Pontos

Era uma vez um ponto laranja, que vivia toda sua liberdade dentro de seu país. Podia frequentar a universidade que escolhesse, era bem tratado onde fosse e os outros pontos e triângulos nunca lhe dirigiam uma palavra ofensiva devido à sua aparência.

Então, um dia, o ponto encontrou um triângulo. Mas não era um triângulo qualquer, de tons alaranjados ou amarelos. Era verde. Os verdes eram diferentes. A sociedade em geral os maltratava, como se fossem diferentes, inferiores. Eles, que eram livres depois de anos de escravidão. Não podiam estudar livremente sem que alguém os lembrasse das marcas do passado tão marcado que custavam a fechar. Marcas que traziam a falta de confiança e a resistência à aproximação.

Mas o ponto não viu nada disso. O ponto só via aqueles olhos, que mais pareciam dois ônix, levando-o a se perder dentro daquele interior escuro, misterioso e aconchegante. Queria conhecer mais, mas sentia que conhecia, que somente reconhecia alguém. Não vira, portanto, o verde, mas sim a alma contida naqueles olhos.

O triângulo, por sua vez, vira o ponto e seu tom alaranjado, e teve medo de ser humilhado. Mas então viu aquelas duas safiras, e perdeu-se no calmo daquela cor, encontrando a paz que tanto procurava. E reconheceu, assim como o ponto, que já conhecia aquele que estava à sua frente.

Juntos eles ficaram e lutaram – muito. Os pais do ponto não queriam a relação, não porque tinha algo contra, mas porque todos os outros tinham. Mas o ponto persistiu. O triângulo resistiu a toda humilhação com o dobro de persistência. Por fim, prevaleceram.

Então a sociedade mudou – ou assim pareceu. Muitos ainda tinham a mesma opinião, mas tinham que manter para si todo o ódio que sentiam. E o ponto e o triângulo tiveram um pequeno pontinho, que já estava para se tornar um ponto. E esse ponto encontrou outro ponto. E, assim como seus pais, o ponto não viu a forma do outro, mas sua alma, à qual sentia sintonia, com a qual se identificava.

E, novamente, havia a sociedade. Pessoas alheias à relação dos dois os mantinham separados. Pessoas que diziam pregar o amor não aceitavam o que fosse diferente da visão distorcida do que era certo. Nunca levavam em conta que outros, diferentes deles, tinham direitos. Pareciam não compreender a mensagem na qual tanto acreditavam, e disseminavam justamente o contrário, o ódio. Milhares de pontos e triângulos se mataram e foram mortos.

Os dois pontos tentaram resistir e lutar – em vão. Supostos amigos os deixaram, outros violavam seus direitos em público e as autoridades nada faziam, muitas vezes acompanhavam o deboche. Até o dia em que os dois pontos tornaram-se uma poça vermelha. Estavam juntos, enfim.

O paralelepípedo os recepcionou quando partiram do mundo, abraçando-os e assegurando-lhes que eram livres. Sozinho, olhou para seu pequeno globo com tristeza profunda. Mesmo tendo-os criado, não entendia porque, se procuravam tanto a imaterialidade a ponto de cometerem atos irracionais e dizer rejeitar o material, não conseguiam enxergar a essência, limitando-se ao mundano. Compreendeu, portanto, que nunca os poderia recepcionar, já que eles, presos à suas ilusões, nunca entenderiam o que é, de fato, amar.
 
Para acabar, postarei uma série de 5 vídeos de Sambakza, um por dia.

13.7.11

A falta que a falta faz

             O despertador tocou novamente. Não sabia por que ele ainda tocava se não dormia há dias. O telefone com seus infinitos recados já cessara, o relógio podia seguir o exemplo, apesar de não me mexer para para-lo - não queria sair do meu conforto frio e cinzento.

            Voltei a afogar-me em meus sonhos, ao lado daquele pedaço de cheiro que havia sobrado. Por que a realidade não é como o plano onírico, onde podemos nos transportar para onde queremos? O sol brilhando suavemente sobre o barco, que velejava calmamente naquela maré salgada, que eu não podia mais sentir escorrendo do meu rosto ao travesseiro. Meu mar secara.

            Abri os olhos. O sol tentava entrar pelas frestas da cortina, tentando trazer cor ao meu cinza, mas eu não queria desistir dele ainda. Acostumara-me a ele, já até começava a gostar de sua presença. Então me levantei e fechei a cortina da melhor maneira possível para deixar a luz lá fora. No escuro eu me encontrava, enxergava melhor. Olhei para aquele quarto cheio de vazio: era calmo e pacífico. As flores estavam secas em seus vasos, mas eram magníficas e ainda exalavam um leve odor que tentava camuflar o almíscar daquela blusa.

            Não sabia se devia jogá-la fora. Sentir aquele cheiro era ao mesmo tempo delicioso e doloroso. Lembrava-me momentos felizes do passado e que eu não mais possuía. A dor, apesar de machucar, faz a realidade mais vívida. Queria me embebedar com aquele aroma, fazer tomar conta de mim, mas não era possível, então resolvi beber algo.

            Recomecei a andar por minha casa. A única presença humana era a minha, e tomava todo o ambiente. Nunca havia reparado que a solidão era tão boa companhia. Aos poucos poderia colocar meus pensamentos em ordem, meditar sobre assuntos importantes, e não supérfluos, que são comuns quando engatamos uma conversa com outros. Era reconfortante. 

Aos poucos reparei nas diferentes tonalidades de cinza da sala. A pouca luz que entrava mostrava a dança do pó cinza claro pelo ar. Também refletia nas taças de cristal, que ficavam prateadas. O sofá, escuro e macio clamava meu nome e não neguei o convite. Fiquei por um tempo com  os olhos fechados, sentindo a atmosfera leve e sufocante ao meu redor.

            Abri a melhor garrafa de vinho que possuía. Não que aquilo fosse suprir o vazio que sentia, mas o deixaria mais saboroso. De fato, esse sentimento começara quando aquele apartamento ficou vazio, mas agora a sensação era outra. Enquanto em meu inicial desespero tentara de tudo para preencher aquele espaço, agora me sentia confortável sabendo que algo faltava. Ri de minhas infelizes tentativas de recuperar o que foi perdido. O quanto implorei, chorei e gastei para ter o que virara uma obsessão de volta.

            O sentimento de plenitude que eu achava sentir anteriormente foi descoberto falso. O meu estado de felicidade se dissipara facilmente, depois de tanta luta para ser obtido. A alegria é efêmera. Mas o meu vazio podia ser eterno. Eu poderia cultivá-lo e aprender a lidar com ele. Mesmo que outra companhia preenchesse o espaço, ainda haveria um lugar para o vazio. Eu gostava dele, me identificava com ele. Saboreei meu vinho enquanto tomava essa decisão. Ele nunca fora tão doce.

            A campainha tocou, me tirando do transe. Não acreditava que alguém ainda viria me visitar depois de tanto ignorar o telefone, e pior, importunando meu momento com minha solidão. 

Fui até a porta e a abri, e lá estava você. Pegou em minhas mãos e disse o quanto se arrependia de me deixar, que tivera tempo de pensar e viu o erro que cometeu e que queria dar outra chance a nosso relacionamento. Aquilo me chocou. Meu vazio parecia querer deixar-me, começar a reparar o buraco feito. Queria eu sentir um pouco o calor e deixar o cinza? Deixar de sentir minha recentemente descoberta doce solidão? Aceitar sua oferta de falsa felicidade enquanto ela durasse? Não. Eu queria continuar amando a minha tristeza.

Por que você voltou?

 (texto produzido para aula de Escrita, Criatividade e Literatura, em 2010)